Tema do mês: Rádio Universitária da UERN

terça-feira, 9 de março de 2010

ALÉM DAS PALAVRAS POR GIOVANNI RODRIGUES

Muito pouco ou nada

Um denunciador fez calar uma voz, ainda modesta e tímida, que se ensaiava no espaço radiofônico da cidade. O que ameaçava essa voz? A voz do denunciador? Como saber? Tal agente, certamente convicto do seu ato, guarda-se no sigilo.


Quem denuncia o denunciador? O denunciador corre algum risco? Ele precisa de sigilo ou proteção? Orgulha-se do seu ato? Quantos crimes o tal denunciador denuncia por dia? Pois muitos por demais os há. O denunciador quis sustar um atentado à sociedade? Conjecturas há quanto a quem seja. Certeza talvez nem a do próprio, talvez enredado em dúvidas metafísicas quanto a ter sido instrumento de uma força superior. Há instâncias urgentes.

O denunciador é moralista, pela ordem dá a vida? Teria o denunciador algum interesse? Ou terá sido um gesto de puro desprendimento? Guardando certamente a sociedade contra a violação, a infração, o crime. O denunciador deve ser uma pessoa grave. Entregue profunda, inteira e radicalmente à sua causa.


Possivelmente um tipo heróico, o denunciador não mostra a cara. Não se dá a homenagens. Deixa à inquietação pública origem e autoria dos seus atos. Um público querendo se lhe dar em puro amor e devoção. O denunciador declina. Nada de pompa. A ínclita ordem dos seus atos resplandece no horizonte da época. Público atônito, não sabe se é um ou vários, se uno ou múltiplo, nem qual deus está por trás.


O propósito e o sentido do sigilo, um segredo, não se sabe. Que largos mistérios guarda. Que felicidade, que grandeza que se guarda, privando-nos da exultação, da exaltação, da epifania. Nada. Silêncio e obscuridade. Só o denunciador exulta, exalta-se e certamente se adora, ante o espelho. Um eleito.

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